Fernando de Noronha vai avaliar a imunidade da população após vacinação em massa
Terá início nesta quarta-feira (14) uma nova fase do estudo “Incidência e Prevalência da COVID-19 no arquipélago de Fernando de Noronha”. A nova etapa visa avaliar a imunidade humoral (anticorpos ) e celular ( linfócitos ) de defesa do organismo contra a Covid-19. O objetivo é acompanhar o desenvolvimento imunológico dos moradores após a vacinação em massa. Noronha foi o primeiro lugar em Pernambuco a vacinar 100% das pessoas acima de 18 anos com a primeira dose. Essa nova etapa da pesquisa no arquipélago foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), do Conselho Nacional de Saúde.
Para Guilherme Rocha, administrador da ilha, a realização desse tipo de estudo em Noronha é uma forma de garantir que tanto a população quanto os turistas que visitam Noronha tenham mais tranquilidade, sabendo que estão em um local onde a doença está controlada. “Desde o início da pandemia, com todas as medidas que tomamos de prevenção para combater o coronavírus, a nossa preocupação sempre foi com a saúde e a vida das pessoas. Agora, depois de conseguir vacinar toda a população, continuamos com o mesmo pensamento de proteção ao ilhéu e também aos turistas, porque a pandemia ainda não acabou. O estudo além de proporcionar respostas científicas importantes nos possibilitará novas perspectivas para o acompanhamento das atividades turísticas, o funcionamento das atividades econômicas e para o dia a dia dos noronhenses, além de sermos exemplos para outros lugares que estão no combate à pandemia”.
O exame será através de coleta de sangue com análise do IgG por sorologia (de sangue) com medição quantitativa dos anticorpos contra o domínio de ligação ao receptor ( RBD) da proteína spike do SARS-COV-2. Este estudo, com toda população vacinada, irá acontecer em três etapas. A primeira se inicia nesta quarta. A segunda coleta ocorrerá em setembro, 28 dias após a segunda dose da vacina. A última vai ser em fevereiro de 2022, seis meses após a segunda dose.
“É uma população que nós chamamos de comunidade fechada e a única ilha oceânica brasileira, mas que também tem um nível de exposição alto por conta da sua principal atividade econômica que é o turismo, contando sempre com pessoas de várias partes do país e do mundo. Então esse novo estudo é uma oportunidade ímpar para podermos avaliar o impacto dessa vacinação em massa do ponto de vista da imunologia humoral e celular. Será importante para sabermos se houve algum caso de adoecimento (casos graves ou leves) ou não, mesmo após a vacina, e comparar com os níveis e os índices da presença dos anticorpos e da imunidade nas pessoas”, diz Mozart Sales, especialista da Secretaria Estadual de Saúde e coordenador do Termo de Cooperação entre a Secretaria e a Organização Pan-Americana da Saúde.
Mozart reforça que os testes dessa nova fase serão ainda mais completos, porque vão incorporar também a imunidade celular .
“A partir desse acompanhamento casado entre imunologia e epidemiologia populacional será possível ter com mais precisão a verificação do adoecimento por Covid mesmo depois da aplicação da vacina e as condições em que isso se deu , percebendo se os anticorpos caem ou não ao longo do tempo e com isso tentarmos entender o que deve ser feito do ponto de vista da prevenção ao risco de adoecimento em pessoas vacinadas. Podemos dar respostas para o Brasil e o mundo acerca do comportamento da Covid e quais as medidas sanitárias que têm que ser adotadas. Talvez entrar no debate sobre a questão da terceira dose ou dose de reforço da vacina, qual o momento e mesmo se será necessária. Esse estudo em Noronha é muito importante para a tomada de decisão da gestão de saúde em Pernambuco e em todo o país. Agradecemos o compromisso do IMIP , OPAS , Secretaria de saúde de Pernambuco e administração da Ilha de Fernando de Noronha em criar as condições para a realização da pesquisa e a sensibilidade da CONEP em realizar a análise e aprovação.”
Fernando Magalhães, superintendente de Saúde da ilha, diz que além de ser um tipo de teste moderno e de difícil acesso em laboratórios particulares, por conta justamente da medição da imunidade humoral e celular, vai garantir a possibilidade da população noronhense verificar o atendimento do protocolo de entrada com o teste de IgG. “A participação da população no estudo é importantíssima. Como vão ser três fases, esse período de extensão vai dar praticamente essa comprovação sobre a titulação do IgG para a população até meados de março do próximo ano, evitando que toda vez que o morador saia para o continente, tenha que fazer o teste RT-PCR. O nosso protocolo vai passar por algumas alterações de entrada na ilha. Mas, para quem tem o IgG, vai permanecer a mesma coisa”, destaca o superintendente.
O material colhido em Noronha será enviado para processamento na Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), no Recife. Os kits para a realização dos testes foram disponibilizados pela Fiocruz e estão aguardando apenas a coleta do sangue da população para a pesquisa começar a ser, de fato, realizada.
Para fazer parte do estudo, o morador acima de 18 anos deve comparecer ao hospital de campanha do arquipélago, localizado no Bairro da Floresta Velha (ao lado da Escola Arquipélago), fazer o cadastro e, em seguida, a coleta do sangue. O atendimento, que vai durar dez dias, será das 9h às 12h e 14h às 17h, durante a semana, e das 8h às 14h no sábado. Os novecentos participantes do estudo epidemiológico realizado ao longo de 2020, que encerrou em maio passado, vão continuar também nesta nova pesquisa.
Texto: Ney Anderson