Patrimônio Histórico

A ocupação de Fernando de Noronha é quase tão antiga quanto a do continente. Em decorrência da sua posição geográfica, o Arquipélago foi uma das primeiras terras localizadas no Novo Mundo, registrada em carta náutica no ano de 1500 pelo cartógrafo espanhol Juan de La Cosa e em 1502, pelo português Alberto Cantino, neste com o nome “Quaresma”.

Sua descoberta, em 1503, é atribuída ao navegador Américo Vespúcio, participante da segunda expedição exploratória às costas brasileiras, comandada por Gonçalo Coelho e financiada pelo fidalgo português Fernão de Loronha, cristão novo, arrendatário de extração de Pau-Brasil.

“O Paraíso é aqui”, disse Vespúcio quando abordou aquela ilha deserta em l0 de agosto de 1503, logo após o naufrágio da principal nau das seis que compunham a expedição. A carta que escreveu, a LETTERA, é o primeiro documento relativo à Ilha, a qual chamava de São Lourenço, fala de “infinitas águas e infinitas árvores; aves muito mansas, que vinham comer às mãos; um boníssimo porto que foi bom para toda a tripulação”. Em decorrência da descoberta, em 1504, foi doada a Fernão de Loronha, que havia financiado a expedição. Foi a primeira Capitania Hereditária do Brasil, porém jamais ocupada pelo seu donatário.

Invasões estrangeiras

Abandonada por mais de dois séculos e situada na rota das grandes navegações, foi abordada por muitos povos, sendo ocupada temporariamente no século XVII por holandeses (que a chamaram “Pavônia”) e no século XVIII por franceses (que a rebatizaram de “l’Ile Delphine“).
Esse ponto vulnerável a invasões motivou a definitiva ocupação por Portugal, através da Capitania de Pernambuco, a partir de 1737, sendo construído o sistema defensivo com dez fortificações – “o maior sistema fortificado do século XVIII no Brasil” -, dentre os quais a Fortaleza de N.S. dos Remédios. A maioria desses fortes estão de pé ainda hoje e dos demais restam evidências arqueológicas.

Na mesma época, o Arquipélago transformava-se num Presídio Comum, para presos condenados a longas penas. Foram esses presidiários a mão-de-obra que ergueu todo o patrimônio edificado e o sistema viário que interliga vilas e fortes. O cruel regime possuía até mesmo solitárias e leitos de pedra, nos quais o prisioneiro mal podia se virar de lado.

Por medida disciplinar, a fim de evitarem-se fugas e esconderijos de presos, desde essa época a vegetação original foi sendo derrubada, alterando o clima do arquipélago. Por essa razão, somente em alguns locais da ilha pode ser vista um pouco da cobertura vegetal original, como na Ponta da Sapata, na encosta do Morro do Pico e nos mirantes do Sancho, Baía dos Golfinhos e Praia do Leão.

Interesse Científico

Cientistas ilustres visitaram o arquipélago em diversas épocas, como o naturalista Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução das Espécies, em 1832. Todos foram atraídos pela sua grande biodiversidade e levantaram dados sobre o meio ambiente, descrevendo-o em trabalhos memoráveis. Também no século XIX, artistas como os franceses Debret e Laissaily registraram em tela a ocupação humana.

Período Militar

Em 1938 o Arquipélago foi cedido à União, para a instalação de um Presídio Político. Em 1942, durante a II Guerra Mundial, criava-se o Território Federal Militar, juntamente com o Destacamento Misto de Guerra e a aliança com a Marinha norte-americana, que instalou na ilha uma Base de Apoio, com cerca de 300 homens.

Nesse período, uma superpopulação de mais de 3.000 expedicionários condicionou a construção de casas pré-moldadas, para abrigá-los. De 1942 a 1988, a Ilha foi administrada por militares: Exército, até 1981; Aeronáutica, até 1986; e EMFA, até 1987. Ainda Território Federal passou para o MINTER, tendo o seu único Governador Civil. Nesse período, entre 1957 e 1965, houve uma nova presença americana, no Posto de Observação de Mísseis Teleguiados.

Em 1988, por força da Constituinte, foi reintegrado ao Estado de Pernambuco, sendo hoje um Distrito Estadual. Também em 1988 foi criado o Parque Nacional Marinho, coexistindo, no espaço de 26 km², o PARNAMAR/FN e a Área de Proteção Ambiental estadual.

Em 13 de dezembro de 2001, a UNESCO considerou o arquipélago SÍTIO DO PATRIMÔNIO MUNDIAL NATURAL, tendo o diploma sido entregue em 27 de dezembro de 2002.

Em 2003, comemorou-se 500 anos da entrada de Fernando de Noronha na história dos homens. 500 anos da sua primeira abordagem, de sua descrição, por um dos maiores navegadores da história, Américo Vespúcio.

Sistema Fortificado do Arquipélago de Fernando de Noronha

Desde os primeiros tempos da colonização do Brasil, o Arquipélago de Fernando de Noronha sempre esteve intrinsecamente relacionado ao subsistema de defesa. A posição geográfica favoreceu a sua ocupação pelo fato de encontrar-se em pleno oceano Atlântico, com uma “posição avançada”. O engenheiro militar português, tenente-general da Infantaria, Diogo da Sylveira Vellozo foi responsável por delinear e definir o esquema das fortificações a serem implantadas, distribuindo-as nos locais previamente identificados. No total, foram erguidas dez fortificações no Arquipélago, duas no Mar de Fora (lado da Ilha voltado para África) – naturalmente protegidas por penhascos e falésias – e as demais no Mar de Dentro (voltado para o Brasil), devido a sua vulnerabilidade

Foram eles: Forte do Bom Jesus do Leão, Forte de São Joaquim do Sueste, Forte de Santo Antônio, Forte de São José do Morro, Fortaleza Nossa Senhora dos Remédios, Forte de Sant’Anna, Forte da Conceição, Forte de Santa Cruz do Pico, Forte de São Pedro do Boldró, Forte de São João Batista dos Dois Irmãos.

Períodos Históricos

» 1500- Aparece no Mapa de Cantino com o nome “Quaresma”.

» 1503 – Descoberta por Américo Vespúcio, integrante da Expedição Exploratória, comandada por Gonçalo Coelho.

» 1504 – Doada, em forma de Capitania Hereditária, ao fidalgo português FERNAN (ou FERNÃO) de LORONHA, financiador da Expedição de 1503.

» 1505 – Resgatados os últimos náufragos da expedição de 1503, por um navio que vinha da Normandia (de Binot Paulmier de Goneville).

» 1534 – Desembarque do viajante alemão Ulrich Schmidel, que lá permanece por alguns anos.

» 1556 – Abordada por franceses que vinham do Rio de Janeiro (Fr. André Thevet, companheiro de Villeigagnon).

» 1558 – Costeada por franceses que vinham do Rio de Janeiro (Jean de Lèry, companheiro de Villeigagnon).

» 1577 – Abordada pelo navegador inglês Francis Drake, que tentava correr o mundo.

» 1612 – Abordada, por 15 dias, pelos franceses que iam para o Maranhão. (Fr. Claude d’Abeville, companheiro de Daniel de la Touche, Senhor da la Ravardière).

» 1619 – Vigiada por uma expedição portuguesa, que desembarca na ilha e a descreve (Pedro de Castro).

» 1626 – Abordada por holandeses que lá param para se refrescar.

» 1629 / 1654 – Posse Holandesa, sob o comando de Corlizon Jol, o “Perna de Pau”.

» 1631 – Arrendada a Michel de Pavw (nome: “Pavônia”).

» 1654 – Entrega da Ilha, após rendição holandesa em Pernambuco.

» 1700 – Transferida a posse da Ilha para Pernambuco, que nada fez para ocupá-la.

» 1736 – Ocupada pelos franceses da Companhia das Índias Orientais, que nela se instalam por um ano (nome: “Isle Delphine” ou “Dauphine”).

» 1737 – Retomada por Pernambuco, Construção da Vila e do Sistema Fortificado. Início da Colônia Correcional.

» 1739 – Desterrados para Fernando de Noronha todos os “ciganos” do Brasil, tido como “vadios”.

» 1745 – Passagem de Juan e Ulloa (espanhóis).

» 1760 – Visita de um navio sueco. Relato de Ekeberg.

» 1816 – Passagem da missão francesa. Debret pinta o Morro do Pico.

» 1817 – Rebelião de Pernambuco.

Consequências para Fernando de Noronha: perda do que havia sido erguido e de todo o acervo, retirado por João de Barros Falcão de Lacerda.

» 1819 – Envio de índios das aldeias de Cimbres e Escada, para a prática da agricultura na Ilha.

» 1824 – Somente neste ano sabe-se, em Fernando de Noronha, que o Brasil já era Independente de Portugal.

» 1823 / 1827 – Administrada pelo Ministério da Guerra.

» 1832 – Passagem do cientista Charles Darwin. Descrição da Ilha.

» 1844 – Desterrados em Noronha os revolucionários da Farroupilha.

» 1877 / 1891 – Administrada pelo Ministério da Justiça.

» 1890 – Desterrados para Fernando de Noronha todos os capoeiristas do Brasil, considerados “desordeiros”.

» 1893 – Instalam-se os Ingleses da “South American Cables Ltda.”.

» 1914 – Transfere-se a concessão de cabos submarinos para os franceses (Cabo Submarino Francês).

» 1925 – Instalam-se os italianos da Italcable (Cabo Submarino Italiano).

» 1927 – Instala-se a Cia. Generale Aeropostale, (antecessora da Air France).

» 1930 / 1931 – Operam em Fernando de Noronha aviões alemães e franceses, no Correio Aéreo Sul.

» 1934 – Constrói-se a 1ª Pista de Pouso da ilha construída pelo Departamento de Aeronáutica Civil.

» 1938 – Entrega da Ilha à União, para a Instalação de um Presídio Político.

» 1942 – Instala-se em Noronha o destacamento Misto, para ações de Guerra (II Guerra Mundial).

Instala-se uma base da Marinha Americana, próximo à Baía Sueste. É construída a segunda Pista de Pouso.

» 1942 – Criado o Território Federal de Fernando de Noronha, vivendo seus periodos:

» 1942 / 1981 – Exército
» 1981 / 1986 – Aeronáutica
» 1986 / 1987 – EMFA
» 1987 / 1988 – MINTER 1946 – Criado, na ilha, um Destacamento da FAB, para controle de voos e para serviços de meteorologia.

» 1957 / 1965 – Instalam-se os americanos no Posto de Observação de Mísseis Teleguiados, próximo ao Boldró.

» 1988 – Criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Reintegrado ao Estado de Pernambuco, tornando-se Distrito Estadual, comandado por um Administrador, indicado pelo Governador do Estado.

» 2001 – Tombada pela UNESCO como “Sítio do Patrimônio Mundial Natural”, com o título entregue em 2002.

» 2003 – Comemorações dos 500 anos do “descobrimento” do Arquipélago de Fernando de Noronha

» 2017 –Tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Conjunto Histórico do Arquipélago Fernando de Noronha, sendo declarado Patrimônio Cultural do Brasil.

» 2018 – A Arquidiocese de Olinda e Recife elevou a Igreja de N. Sra. dos Remédios a condição de Paróquia, anteriormente com sede em Recife, na Paróquia da Madre de Deus.