Noronha: um paraíso cheio de lendas

Noronha: um paraíso cheio de lendas

Conheça as histórias da “Alamoa”, “O Menino do Dentão”, “O Cajueiro da Cigana”, entre outras que marcam o arquipélago

Além das belas praias e grandes histórias, a Ilha de Fernando de Noronha é repleta de lendas e mitos locais, que são repassados por gerações. Por ter sido palco de inúmeras ocupações, entre diversas nacionalidades, o arquipélago teve muitas influências de povos estrangeiros, trazendo para a localidade crenças, mitos e lendas. No entanto, a maior parte das narrativas surgiu no tempo do presídio, simbolizando medos e desafios dos presos.

Naquela época, a solidão e o isolamento dos que viviam em Fernando de Noronha cumprindo penas ou vivendo uma vida ilhada, despertaram fantasias que fizeram surgir a maioria das lendas que falam sobre mulheres sedutoras, figuras ameaçadoras, castigos, piratas invasores, tesouros escondidos em cavernas, figuras míticas, morte, entre outros.

De acordo com a historiadora Marieta Borges (in memoriam), “quando uma lenda atravessa os tempos, repetida pela oralidade, o povo aceita as histórias contadas sem discutir se elas são verídicas ou não”. “Como diz um ditado popular, que ‘quem conta um conto aumenta um ponto’, as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente, de geração a geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas”, afirmava.

As lendas que se perpetuam na ilha até hoje e são bastante conhecidas entre os nativos são a da “Alamoa”, “O Mistério da Cacimba do Padre”, “O Cajueiro da Cigana”, “O Monstro do Sueste”, “A Mulher de Branco”, “A Lenda do Pecado”, “O Buraco da Raquel”, “A Luz do Pico”, “Gigante da Meia-Noite”, “O Menino do Dentão”, “O Tesouro do Capitão Kidd” e “O Tesouro Encantado”.

Homenagem – Em 1995, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira teve como enredo no carnaval daquele ano o tema “Fernando de Noronha: a Esmeralda do Atlântico – suas lendas e suas possibilidades fantásticas”. No desfile, o livro “Fernando de Noronha – lendas e fatos pitorescos”, da historiadora Marieta Borges, foi fielmente retratado na agremiação. As lendas foram representadas em carros alegóricos, alas e comissão de frente. O destaque foi a então apresentadora de TV da Rede Globo, Angélica, que interpretou a “Alamoa”.

 

 

Lendas

Alamoa

A “Alamoa”, caracterizada como a lenda mais popular do arquipélago, que nomeia estrada, pousadas, lojas e restaurantes, trata-se de uma lenda que Alamoa era uma mulher loira, de beleza encantadora, que lutava para proteger o arquipélago. Ela seduzia os homens nas noites de lua cheia e depois os matavam por acreditar que eles destruíam a natureza. Com o tempo, o conto sobre a Alamoa perdeu esse teor sombrio e ela passou a ser vista como uma protetora da ilha.

 

O Mistério da Cacimba do Padre

Diz a lenda que o padre Francisco Adelino de Brito Dantas descobriu a existência de água potável nas imediações da casa onde morava, na Praia da Quixaba, e lá construiu uma cacimba de 14 metros de profundidade. Os presos que viviam por ali contam que, mesmo após a morte do religioso, era possível ver o fantasma do padre no local montado em uma mula sem cabeça toda branca.

O Menino do Dentão

A lenda diz que um menino fantasma, com um dente só e bem grande, corria atrás das crianças que saíam de casa à noite. Segundo os nativos, é possível escutar o menino chorando pelas noites de Fernando de Noronha.

O Cajueiro da Cigana

Essa lenda traz a história de uma cigana que, prostituindo-se na ilha, ao morrer e ser enterrada, teve um cajueiro plantado na sua cova, aparecendo próximo a ele com frequência para oferecer seu amor. A lenda remonta ao ano de 1739, quando todos os ciganos do Brasil foram banidos para Fernando de Noronha.

A Lenda do Pecado

Um casal de gigantes viveu um romance proibido, que logo foi descoberto e, como sequência, foram castigados. Os órgãos genitais do casal foram petrificados, onde o pênis do homem virou o Morro do Pico e os seios da mulher foram transformados no Morro Dois Irmãos .

Buraco da Raquel

O Buraco da Raquel, além de suas lendas, é um ponto turístico de grande importância ambiental, localizado na região do Porto de Santo Antônio. Funciona como um berçário marinho, oferecendo serviços para todas as necessidades dos tubarões, como alimentação, descanso e acasalamento. Não é permitido o mergulho no local. De acordo com a lenda local, a menina “Raquel” era filha de um dos comandantes militares da ilha e, quando estava em crise psicológica, se escondia no local. No entanto, uma segunda versão afirma que “Raquel” ia até o local para encontros amorosos.

A Luz do Pico

Os prisioneiros mais velhos diziam que a luz que subia e descia no Pico era a alma de uma francesa, que guardava um tesouro em uma das brechas do morro, e, de lá, ela assustava os que se aproximavam. Dois prisioneiros, ao fazer ronda naquele local à noite, foram seguidos pela francesa que lhes ofereceu ouro. Mas, apavorados e com medo, eles fugiram.

A Mulher de Branco

Há quem considere que a “Mulher de Branco” seria a modernização da sereia “Alamoa”. Essa ligação teria sido feita por influência de uma novela, que falava de uma mulher que percorria as ruas e seduzia os homens, sempre vestida de branco. Ainda existe outra versão, na qual a “Mulher de Branco” tinha nome e sobrenome e era um disfarce usado por um ordenança para assustar mulheres que se prostituíam. Coberto com um lençol, como se fosse um fantasma, o homem saía ao encontro dessas mulheres e as colocavam de volta para as suas casas.

 

O Homem dos Telhados

Esse homem seria um general, fardado e armado, que morava na abóbada (estrutura arquitetônica em formato curvado) da Fortaleza. Ele aparecia nos telhados da Vila dos Remédios, nas noites escuras, pulando de um lado para o outro, arrastando espadas e assombrando muita gente.

O Tesouro Encantado

Traz a lenda que um tesouro foi enterrado em um local deserto, próximo à sétima cajazeira de uma área arborizada, e que teria sido anunciado por um velho de longas barbas brancas. Trata-se de uma história típica do universo ilhéu, privilegiando seu espaço limitado, imaginando que ele esconderia tesouros, bem como atribui à cajazeira – árvore comum na ilha – um poder sobrenatural. Remonta ainda ao período das abordagens e ocupações estrangeiras, anteriores a 1737.

O Gigante da Meia-Noite

Fala de “pescador” gigante, que atrapalhava qualquer pescaria, assombrando os pescadores que não teriam mais chances de apanhar peixes, depois que avistavam o gigante.

Capitão Kidd

O navegador Francis Drake, conhecido como o célebre pirata inglês, escondia numa caverna da ilha o fruto de suas pilhagens feitas pelo mar. Remonta, provavelmente, ao século XVI, quando se dá o registro da passagem do Sir Francis Drake pela ilha, em 1577. Até hoje existe em Fernando de Noronha a “Caverna do Capitão Kidd”.

O Monstro do Sueste

Um monstro marinho, disfarçado à beira d’água, confundindo e assombrando pescadores, na Baía do Sueste.

Texto: Bruna Woolley

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